A natureza é o nosso primeiro lar, aquele que existe desde sempre e, desde sempre, continua a oferecer sem pedir.
Não nos enganemos quanto ao volume da sua voz, pois esta é bem audível e pulsante. Há uma sabedoria ancestral nas árvores que se curvam ao vento, uma serenidade nos rios que nunca apressam o seu curso, uma força silenciosa nas montanhas que permanecem, firmes, enquanto tudo à volta muda.
Portugal, país de dimensões modestas, mas de alma grandiosa, guarda tesouros naturais que rivalizam com os mais épicos do mundo. E, talvez, nenhum outro lugar o prove tão bem quanto Mondego e o Bussaco, o lugar onde o tempo leva tempo, o lugar onde a floresta sussurra histórias que não estão escritas em livros, o lugar onde os segredos só se revelam a quem caminha devagar.
O GPS dá a primeiras direções, basta escrever Mortágua, Mealhada ou Penacova (ou os três, caso exista disponibilidade). Mal o carro seja estacionado, desligue o mapa, deixe que seja o vento, o verde e o som da água sejam os guias.
A natureza sabe o caminho, acredite!
Mortágua
Albufeira e Barragem da Aguieira
Há lugares que surpreendem pelo engenho humano, outros pela beleza natural. A Barragem da Aguieira combina os dois. Situada no leito do rio Mondego, entre os concelhos de Mortágua e Penacova, impõe-se com os seus 90 metros de altura e é considerada uma verdadeira obra-prima da engenharia nacional.
Responsável pelo espelho de água que se estende por mais de 2.000 hectares, esta obra permitiu reforçar o semblante cromático característico do território Mondego-Bussaco. O contraste entre os azuis profundos da albufeira e os verdes densos das florestas transformam a paisagem num postal vivo.
Mais do que um feito de engenharia, a Aguieira é um refúgio. Um lugar onde o tempo parece abrandar e os sentidos se despertam.
Neste lugar, os dias são feitos para viver devagar: lançar a cana à água, percorrer os trilhos, aventurar-se em desportos náuticos ou simplesmente flutuar num passeio de barco, sem destino nem pressas.
Quedas de Água das Paredes
As Quedas de Água das Paredes apresentam-se como o ponto mais alto de um percurso pedestre, com cerca 7,1km de extensão (ida e volta), que se inicia nos Moinhos das Laceiras e segue até à aldeia de Paredes.
O trilho, com uma duração aproximada de 1h30, desenvolve-se ao longo de uma paisagem marcada pelas ruínas de antigos moinhos de água e pela aldeia de xisto, onde se preserva a identidade rural da região. A vegetação, dominada por eucaliptos, é enriquecida por outras espécies que ganham destaque com a mudança das estações.
O percurso culmina numa cascata natural com cerca de 30 metros de altura, formada por vários patamares e piscinas naturais. Este cenário, de beleza crua e refrescante, afirma-se como um dos ex-líbris naturais do concelho, envolto por rochas, vegetação densa e o som constante da água a descer pelas escarpas.
Mealhada
Mata Nacional do Bussaco
A Mata Nacional do Bussaco é um dos mais notáveis patrimónios paisagísticos de Portugal e encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 2018.
Com 105 hectares de riqueza paisagística, cultural e espiritual, este lugar foi, outrora, refúgio de monges carmelitas e palco para momentos decisivos da História, como a resistência anglo-lusa às invasões napoleónicas.
A diversidade botânica é um dos traços mais marcantes da Mata, conta com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos oriundos dos quatro cantos do mundo. Uma verdadeira arca viva de biodiversidade, onde habitam mais de 150 espécies de vertebrados.
Os seus percursos pedestres estendem-se entre vegetação densa, árvores centenárias, fontes ornamentadas e miradouros que revelam paisagens de cortar a respiração.
Água Mineral Natural Luso
A Água Mineral Natural de Luso nasce no coração da Serra do Bussaco, fruto de um percurso lento e profundo que a leva a mais de 500 metros de profundidade, algo que provoca o seu aquecimento acima dos 30ºC.
Esta viagem subterrânea, iniciada com a infiltração da água da chuva em rochas quartzíticas, confere-lhe uma pureza rara e propriedades únicas que há séculos despertam a atenção de quem procura saúde e equilíbrio.
Inicialmente captada na Fonte Termal de Luso, a água servia tanto para tratamentos como para engarrafamento. Com a criação de um furo de captação independente, a fonte ficou inteiramente dedicada ao termalismo, consolidando a sua vocação terapêutica.
Penacova
Praia Fluvial do Reconquinho
Na margem esquerda do rio Mondego, frente à vila de Penacova, a Praia Fluvial do Reconquinho destaca-se pelo seu extenso areal e paisagem envolvente, tornando-se o cenário perfeito para dias longos e tranquilos de verão. A ponte pedonal em madeira que liga as margens é um dos pontos mais icónicos do local, muito procurada para mergulhos e momentos de descontração.
Galardoada com a Bandeira Azul desde 2013, a praia oferece todas as comodidades essenciais: bar, apoios de praia, fluvioteca e animação ao longo da época balnear. Entre a tranquilidade das águas do Mondego e a sombra generosa da vegetação, o espaço convida ao lazer, mas também à aventura.
É também aqui que se encontra o centro de Trail Running Carlos Sá, ponto de partida dos percursos que percorrem o concelho de Penacova, unindo natureza e desporto num mesmo lugar.
Livraria do Mondego
Esculpida ao longo de mais de 400 milhões de anos pelas águas do Mondego, a Livraria do Mondego é um dos mais impressionantes monumentos naturais de Portugal. As suas imponentes camadas de quartzito ordovícico, dispostas em fraturas verticais, assemelham-se a lombadas de livros numa estante, o que lhe valeu o nome poético de “livraria mais antiga do mundo”.
Esta formação integra a grande falha tardi-hercínica de Orense–Bacia da Lousã e foi fonte de inspiração para os primeiros estudos geológicos e paleontológicos do Ordovícico em território nacional. Classificada como Geomonumento, a Livraria do Mondego convida à contemplação e à imaginação.
Cada estrato parece guardar histórias antigas, escritas pelo tempo e reveladas ao som sereno do rio que continua, pacientemente, a moldar a paisagem.