No território Mondego-Bussaco, o tempo é o maestro responsável pela sinfonia dos elementos. A este, cabe-lhe o grande desígnio de coordenar e afinar cada um, para que coexistam em harmonia e juntos componham uma melodia memorável.
Caros leitores, convidamo-los a relaxar. Muito em breve será apresentada uma das orquestras mais singulares.
Fogo, o elemento que transporta a casa.
Das fornalhas antigas aos fornos de lenha, é ele que transforma receitas, intensifica sabores e cria memórias. Cada prato, vindo do calor das brasas, transporta a casa e reconforta a alma, tornando-se ainda mais especial quando servido pelas gentes locais.
Lampantana
Originária do concelho de Mortágua, a Lampantana é confecionada com carne de ovelha, assada em caçoila de barro, num forno de lenha, e servida com batata “fardada” (cozida com casca) e grelos a acompanhar.
Uns dizem que surgiu aquando das Invasões Francesas, outros afirmam que foi inventada como forma de distinção da Chanfana, que se faz a partir de carne de cabra. O que é certo é que se tornou num prato festivo e tipicamente mortaguense.
Leitão da Bairrada
O Leitão da Bairrada é um verdadeiro ícone da gastronomia portuguesa, famoso pela sua pele crocante e carne suculenta, temperada na perfeição. O fogo desempenha um papel fundamental na sua confeção, envolvendo-o num calor preciso e constante. O segredo é assá-lo lentamente num forno tradicional de tijolo, ao longo de 1h30 a 2h00, e ir rodando a sua posição.
Servido com batatas, salada e as clássicas rodelas de laranja, este prato atinge a sua plenitude quando harmonizado com um dos requintados espumantes da região.
Água, o elemento que nutre a vida.
Fresca e cristalina, nutre a terra e a vida. Corre livre pelos rios, desliza em quedas abruptas e reflete o céu nos seus tons azulados. É a força serena que esculpe paisagens e renova a natureza, mantendo a sua pureza intacta.
Rio Mondego
Nascido em Portugal, o Mondego percorre um vale encaixado e deixa para trás um rasto serpenteado, responsável por delinear parte das terras que o circundam. No seu berço, a montante, surge tímido e franzino, mas à medida que avança, ganha corpo e determinação, expandindo-se a jusante. Para uns, brilha como prata, para outros, é cristalino e puro, com águas que se acredita terem o poder de curar.
Mais do que um rio, é um refúgio de biodiversidade, onde fauna e flora prosperam graças à sua pureza e frescura.
Quedas de Água das Paredes
As Quedas de Água das Paredes são o ponto alto de um percurso pedestre de 7,1 km (ida e volta), que parte dos Moinhos das Laceiras e segue até à aldeia de Paredes.
Ao longo de cerca de 1h30, os caminhantes percorrem um trilho onde a água é presença constante, assim como as ruínas dos sete moinhos água local, que em tempos sustentaram a agricultura local.
O culminar do percurso é uma cascata natural de cerca de 30 metros, compostas por vários patamares e piscinas naturais, um dos ex-líbris naturais a não perder durante a sua visita a Mortágua.
Terra, o elemento que sustenta a vida.
Sobre ela crescem árvores centenárias, firmam-se raízes profundas e escrevem-se histórias de coragem e conquista. Nos seus altos e baixos, a vida encontra sempre um caminho para florescer.
Serra do Bussaco
Ao longo de vários quilómetros erguem-se e estendem-se os altos e baixos da Serra do Bussaco, revelando o poder e a riqueza da terra que a sustenta. Um solo fértil que dá vida a uma densa manta de árvores e folhagens que se expandem e acabam por criar um ecossistema vibrante.
Desde o verde mais profundo das árvores centenárias até ao verde fresco das novas folhas, cada tonalidade conta a história de um território que respira e cresce em harmonia com a terra.
Livraria do Mondego
Há quem a intitule de “livraria mais antiga do mundo”, devido ao trabalho incansável do Mondego, que ao longo de mais de 400 milhões de anos a esculpiu, e à verticalidade das camadas de quartzitos ordovícicos fraturados, que se assemelham a livros alinhados numa estante.
A Livraria do Mondego é uma das formações rochosas mais complexas do país, sendo integrando da grande falha tardi-hercínica de Orense-Bacia da Lousã. Esta geografia inspirou os primeiros estudos sobre o Ordovícico em Portugal, marcando o início da exploração geológica e paleontológica da região.
Ar, o elemento que purifica a alma.
A sua leveza purifica a mente, apazigua a alma e envolve quem por aqui passa numa sensação de liberdade e bem-estar. Entre as copas das árvores, sussurra memórias antigas, enquanto atravessa montes e vales para renovar o espírito e despertar os sentidos.
Mata do Bussaco
A Mata Nacional do Bussaco, com quase 400 anos de história botânica, vai ser a primeira floresta terapêutica da Península Ibérica.
Os ares puros da mata, há séculos procurados para repouso e introspeção, renovam corpo e espírito a cada respiração. Entre árvores centenárias, espécies raras e o som sereno da água, este santuário verde convida à contemplação e ao equilíbrio entre natureza e bem-estar.
Mirante Emygdio da Silva
O Mirante Emídio da Silva é um dos locais mais marcantes de Penacova. Construído no século XX, na borda de uma escarpa, por iniciativa de Emídio da Silva e com a arquitetura de Nicolau Bigaglia, oferece uma vista privilegiada sobre a vila, o Mondego e as serras ao redor.
Aqui, o ar não se deixa ficar ou apenas passar, ele carrega uma sensação de liberdade, capaz de desvendar os mistérios que caracterizam a região. O vento vem purificar a mente e convidar à contemplação, para que a serenidade chegue à alma.
Agora que a orquestra foi devidamente apresentada, é hora de seguir a partitura! (Que é como quem diz: É hora de visitar Mondego-Bussaco!)